Informe do Comitê Técnico de Informações Estratégicas e Respostas Rápidas à Emergência em Vigilância em Saúde Referente ao Coronavírus da UFCSPA
A COVID-19 é uma doença provocada pelo agente biológico viral SARS-CoV-2. A doença é caracterizada por transmissão respiratória na comunidade, onde o vírus é disseminado a partir de pessoas infectadas. Tanto a saliva, proveniente da fala ou tosse, quanto o muco nasofaríngeo, expelido através de espirros e na expiração, podem conter partículas virais que se propagam na forma de gotículas de diversos tamanhos: as maiores se depositam próximas à pessoa-fonte; as menores, mais leves, se propagam no ar por até 8 metros na forma de aerossol e podem permanecer de minutos a horas no ambiente e superfícies [1,2]. Também são consideradas rotas de transmissão, mas de menor risco, o contato pessoa-a-pessoa e o toque de superfícies contaminadas com as mãos, as quais posteriormente são levadas à boca ou ao nariz [3].
Os aerossóis podem permanecer por diferentes intervalos de tempo nos ambientes porque isso depende do número de pessoas contaminadas no local, do tempo de permanência das pessoas contaminadas e não-contaminadas, dos fluxos de ar do local e outros [4]. O RNA do SARS-CoV-2 já foi identificado, por exemplo, em diversos locais públicos como bancos, shoppings centers, estações de metrô, trens e ônibus, aeroportos, escritórios, além de hospitais, bares, restaurantes, academias e escolas [5,6]. Destaca-se também que a propagação possui alcances variados e a transmissão já foi detectada nos locais citados acima, destacando-se também as residências das pessoas [7,8]. Nas moradias, os focos domiciliares foram dominantes quando comparados a transportes coletivos, restaurantes e shoppings, onde muito se deve à proximidade entre as pessoas e por estes locais permanecerem mais tempo fechados, dificultando a renovação do ar.
Assim, diversos esforços têm sido direcionados às medidas de mitigação e prevenção à COVID-19. Por tratar-se de um vírus de infecção respiratória e sua forma de transmissão, o uso de máscara, o distanciamento físico, a higienização de mãos e superfícies, a imunização, a ventilação de ambientes internos e o isolamento de casos identificados nas testagens, têm ajudado a reduzir as taxas de contaminação com o SARS-CoV-2 [9, 10]. Quando ações governamentais são prontamente realizadas e medidas de controle são comunicadas claramente à população, a doença pode ser melhor controlada [9, 10]. Além disso, as medidas de base populacional durante uma pandemia contribuem mais efetivamente no controle da transmissão do vírus do que as medidas individuais [11]. Abaixo, apresentamos algumas situações que podem contribuir para a mitigação dos riscos associados à permanência de aerossóis em ambientes internos.
Ambientes que não oferecem ventilação adequada são propícios à disseminação de aerossóis entre pessoas, principalmente quando o uso de máscaras não for feito adequadamente.
(A) (B)
Para que a propagação e permanência de aerossóis contendo partículas virais contaminantes no ambiente sejam reduzidas é necessário que fluxos de ar sejam provocados. Nas situações onde há ventilação natural, esses fluxos podem ocorrer quando há janelas em oposição (A) ou portas em oposição às janelas (B). Porém, os fluxos causados por tais ações por vezes não são tão eficientes em provocar a mobilização mais efetiva ou rápida dos aerossóis contaminantes.
(A)(B)
O uso de ventilação mecânica pode auxiliar na estimulação de maior dissipação de aerossóis. Ventiladores de teto, em modo de “exaustão” auxiliam na troca do ar ambiente (A); o mesmo ocorre quando são utilizados ventiladores do tipo “torre” (B). Ressalta-se que o fluxo não deve ser direcionado às pessoas presentes no ambiente, mas em direção às saídas de ar, como janelas e portas.
O uso de equipamentos de filtração de ar, como o sistema HEPA, quando possível de ser instalado no ambiente, também pode contribuir eficientemente para a diminuição de partículas contaminantes. Porém, ressalta-se que tais sistemas requerem troca e/ou higienização frequente de filtros. Por outro lado, o uso de condicionadores de ar em ambientes fechados não são recomendados, pois não permitem renovação do ar.
Por fim, cabe ressaltar a importância do uso de máscaras bem ajustadas e do distanciamento físico, pois essas medidas precisam ser somadas à ventilação dos ambientes para que a transmissão aérea da COVID-19 possa ser minimizada. E sempre que possível, realize as atividades ao ar livre.
Elaboração: Professora Melissa M. Markoski
Bióloga, mestre e doutora em Biologia Celular e Molecular, pós-doutora em Imunologia, professora de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), membro do Comitê Técnico de Informações Estratégicas e Respostas Rápidas à Emergência em Vigilância em Saúde Referente ao Coronavírus da UFCSPA (COE-UFSCPA), membro do Comitê Técnico de Biossegurança da UFCSPA (CTBio-UFCSPA) e membro da Rede Análise COVID-19.
Referências
[1] Leung NHL. Transmissibility and transmission of respiratory viruses. Nat Rev Microbiol (2021). doi: 10.1038/s41579-021-00535-6
[2] Huang N, Pérez P, Kato T, et al. SARS-CoV-2 infection of the oral cavity and saliva. Nat Med 27, 892–903 (2021). doi: 10.1038/s41591-021-01296-8
[3] Pitol AK, Julian TR. Community Transmission of SARS-CoV-2 by Surfaces: Risks and Risk Reduction Strategies. Environ Sci Technol Lett 8, 3, 263–269 (2021). doi: 10.1021/acs.estlett.0c00966
[4] Lewis D. Why indoor spaces are still prime COVID hotspots. Nature 592(7852):22-25 (2021). doi: 10.1038/d41586-021-00810-9.
[5] Hadei M, Mohebbi SR, Hopke PK, et al. Presence of SARS-CoV-2 in the air of public places and transportation. Atmos Pollut Res 12(3):302-306 (2021). doi: 10.1016/j.apr.2020.12.016.
[6] Pavilonis B, Lerardi AM, Levine L, et al. Estimating aerosol transmission risk of SARS-CoV-2 in New York City public schools during reopening. Environ Res, 195, 110805 (2021). doi: 10.1016/j.envres.2021.110805
[7] Jones NR, Qureshi ZU, Temple RJ, et al. Two metres or one: what is the evidence for physical distancing in covid-19? BMJ. 370:m3223 (2020). doi: 10.1136/bmj.m3223
[8] Qian H, Miao T, Liu L,et al. Indoor transmission of SARS-CoV-2. Indoor Air. 31(3):639-645 (2021). doi: 10.1111/ina.12766.
[9] Brooks JT, Butler JC. Effectiveness of Mask Wearing to Control Community Spread of SARS-CoV-2. JAMA. 325(10):998–999 (2021). doi: 10.1001/jama.2021.1505
[10] Zhang R, Li Y, Zhang AL, et al. Identifying airborne transmission as the dominant route for the spread of COVID-19. Proc Natl Acad Sci U S A. 30;117(26):14857-14863 (2020). doi: 10.1073/pnas.2009637117.
[11] Morawska L, Tang JW, Bahnfleth W, et al. How can airborne transmission of COVID-19 indoors be minimised? Environ Int. 142:105832 (2020). doi: 10.1016/j.envint.2020.105832.